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Álvaro Damasceno e Veronica Ribeiro

Queimadas no Amazonas e as consequências para a saúde humana

Os números de queimadas na Amazônia cresceram significativamente em 2020, especialmente no Amazonas. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), até o dia 13 de outubro, foram registrados 15.815 focos de incêndios no estado, ultrapassando os números de 2005, que somaram 15.644 casos de incêndios.

Os municípios mais atingidos pelas queimadas neste ano foram Apuí e Lábrea. Em Apuí, até outubro foram registrados 2.740 focos, enquanto em Lábrea tiveram pouco mais de 2.230. Os dois municípios foram listados pelo Inpe entre as dez cidades do Brasil mais afetadas pelas chamas.

De acordo com o biólogo Lucas Ferrante, em comparação com os dados registrados entre janeiro e outubro deste ano com o mesmo período do ano passado, o total de destruição florestal aumento 35%.


“Observamos que no Estado do Amazonas houve uma crescente de 35% do número de queimadas em 2020 em relação ao mesmo período de 2019. Entre 2018 e 2019 já havia ocorrido o incremento de 17% nas queimadas”, informou.


Ferrante associa o aumento de queimadas na região amazônica à falta de fiscalização por parte do poder público.


“Todo esse aumento de fogo, tanto no Estado do Amazonas quanto na Amazônia, em linhas gerais, é por conta de um desmonte ambiental e das fracas políticas ambientais do Brasil, principalmente, o sucateamento dos órgãos ambientais, como o Ibama e ICMBio, além dessa nova gestão que não tem protegido a floresta”.

Queimada em área de desmatamento no sul do Amazonas, em agosto de 2020 (Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real)

Segundo o biólogo, o "sucateamento" ambiental foi denunciado no final de 2019, por meio de artigo publicado na Revista Environmental Conservation, editada pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra.


“Esse artigo, analisou todo esse sucateamento ambiental propiciado na atual gestão, já avisando que, como resultado disso, iria ocorrer aumento de desmatamento e queimadas”, disse.


Impactos das fumaças de queimadas para a saúde


Por conta da emissão de poluentes clássicos, como o carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NOx) e hidrocarbonetos (HC), além de substâncias altamente tóxicas, as queimadas no bioma amazônico trazem consigo problemas à saúde humana, e seus efeitos podem ir de intoxicação até a redução da concentração de oxigênio no organismo, causando asfixia.

O médico pneumologista Luiz Marques, alerta que a fumaça proveniente das intensas queimadas pode ter graves consequências à saúde das pessoas. "As fumaças afetam principalmente a saúde das que já enfrentam alguma doença respiratória, como asma, bronquite, rinite e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica. A exposição prolongada às partículas da fumaça também aumenta o risco de câncer”, acrescenta.

Segundo o especialista, todas as faixas etárias sofrem com a poluição atmosférica, mas os idosos, crianças e pessoas com doenças respiratórias preexistente são os mais acometidos, tanto em áreas urbanas quanto em áreas rurais.

Manaus amanheceu com cortina de fumaça intensa, no dia 8 de setembro de 2020. (Foto: Bruno Kelly)

Para a enfermeira Brenda Miranda, que enfrenta crises de asma, esse período de queimadas e a presença constante de fumaça no ar interferem no tratamento de controle da doença. “Eu já sofria bastante com problema de asma e agora, com o aumento das queimadas e essa fumaça pairando no ar nos últimos meses, tenho sofrido ainda mais”, disse.

A enfermeira enfatiza que o uso de máscaras, exigido como forma de prevenção da Covid-19, tem servido como aliada, pois faz com que ela não tenha tanto contato com o ar poluído.

O pneumologista salienta que alguns cuidados são indispensáveis para tentar minimizar os impactos das queimadas à saúde.



O governo Bolsonaro e a Amazônia


A atuação do presidente da republica, Jair Bolsonaro, no que tange a preservação do meio ambiente, tem sido vexatória. Tanto o presidente quanto seu vice, Hamilton Mourão, que preside o Conselho da Amazônia, negam os problemas ambientais e as queimadas na amazônia através de discursos vazios e com viés politico.


Em discurso na Assembleia das Nações Unidas (ONU), no dia 22 de setembro de 2020, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o Brasil é "vítima" de uma campanha "brutal" de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal.


Veja o vídeo na integra;


Para o presidente, a riqueza da Amazônia é a motivação para as críticas que o país sofre na área ambiental, salientando ainda que, entidades brasileiras e "impatrióticas" se unem a instituições internacionais para prejudicarem o governo e o país.


"Somos vítimas de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal. A Amazônia brasileira é sabidamente riquíssima. Isso explica o apoio de instituições internacionais a essa campanha escorada em interesses escusos que se unem a associações brasileiras, aproveitadoras e impatrióticas, com o objetivo de prejudicar o governo e o próprio Brasil", disse Bolsonaro em vídeo.

Ainda em seu discurso, Bolsonaro diz que os incêndios acontecem apenas na bordas da amazônia e culpa os 'índios' e 'caboclos' pelas intensas queimadas.


Os incêndios acontecem praticamente nos mesmos lugares, no entorno leste da floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas. Os focos criminosos são combatidos com rigor e determinação", continuou o presidente.

Para o biólogo Lucas Ferrante, as palavras proferidas pelo líder brasileiro foram irresponsáveis, mentirosas e enganosas, não só para a população brasileira, mas também para a comunidade internacional.


"De fato, os caboclos e índios não são os responsáveis pelas queimadas, mas sim os grandes ruralistas, que estão queimando essas áreas, principalmente para a invasão, criação de gado e soja. Essas falas mentirosas do presidente da republica mostram que suas ações tem sido ineficaz em controlar as queimadas", ressaltou.


A gestão ambiental do governo brasileiro vem sendo alvo de críticas desde o ano passado. Entidades, países e personalidades vem contestando as rasas políticas do Brasil voltadas ao meio ambiente. Essa falta de eficacia frente aos problemas ambientais emergentes vividos no país, tem refletido na economia brasileira e na relação com países em todo o mundo.


A Amazônia pede socorro


A maior floresta tropical do mundo precisa ser enxergada urgentemente. Políticas ambientais fortes e eficazes são necessárias para que os biomas continuem vivos, nos oferecendo riquezas naturais infinitas.

Adaptação do vídeo 'A Natureza Está Falando | Camila Pitanga é a Amazônia', do canal Conservação Internacional, no YouTube.


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