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Júlia Maria e Maria Juliane Menezes

UMA LUTA POR IGUALDADE



Quantas vezes você ouviu que o futebol não era coisa de meninas e que elas não jogam bem?

O futebol feminino vive de muita resistência desde quando as primeiras guerreiras do Brasil começaram a correr atrás de uma bola. Isso lá nos anos 20, no Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Norte.

O ano de 1940, quando aconteceram os jogos no Pacaembu, poderia ter sido o início de um sonho para essas mulheres, porém essa prática gerou muita revolta em grande parte da sociedade na época, levando uma pressão para as autoridades proibirem os jogos.

No ano seguinte veio o primeiro veto através de um processo de regulamentação do esporte no Brasil, criou-se então o Conselho Nacional de Desportos. Dentro dele foi instituído um Decreto-lei que trazia no texto as mulheres não deveriam praticar esportes que não fossem adequados a sua natureza. Implicitamente o futebol se enquadra neste decreto. No governo militar o decreto é novamente publicado, desta vez especificando a proibição de práticas esportivas por partes das mulheres.

Em 1979 uma luz brilha no fim do túnel, a lei de proibição foi revogada e as mulheres podem soltar um suspiro de alívio e iniciar sua jornada na modalidade, mesmo com toda a dificuldade de não ter apoio de clubes e federações.

Tendo a modalidade regulamentada somente em 1983, foram permitidas as competições, criação de calendários, uso dos estádios e o incentivo nas escolas. Os times pioneiros e mais competitivos da época eram Radar e Saad.

Finalmente o momento de mostrar seus talentos chegou. Em 1988 é realizado pela FIFA um torneio mundial, mesmo que experimental na China, chamado Women’s Invitational Tournament. A seleção montada de base dos clubes pioneiros voou para a China e conseguiram trazer a medalha de bronze, conquistada nos pênaltis.

E chega o ano da primeira Copa do Mundo de Futebol Feminino. Com time oficializado pela CBF, mesmo que não tenha o tratamento adequado, o Brasil decolou em busca de um grande sonho. Infelizmente, a seleção foi eliminada logo na primeira fase.

Na sua primeira participação nas Olímpiadas, elas chegaram muito perto do pódio, terminando a competição na quarta colocação.

Com muita resistência e determinação, que era o que movia essas grandes mulheres, elas conquistaram sua primeira medalha na Copa do Mundo. Superando todas as expectativas e fazendo bons resultados, a seleção feminina ocupa o terceiro lugar nos Estados Unidos.

A partir dessa conquista pequenos grandes frutos foram colhidos, surgiu Marta, um grande ícone de inspiração para garotas e profissionais da área. Medalha de ouro no Pan de Santo Domingo, prata na Olimpíada da Grécia, vice-campeãs na Copa do Mundo na China, prata na Olimpíada de Pequim.

E dois grandes momentos que com certeza ficarão na memória, campeãs no Pan-Americano do Rio em 2007 e do Canadá em 2015.


A Copa do Mundo de 2019 cessou todas as dúvidas do interesse do público no futebol feminino, pois nenhum outro Mundial atraiu tantos holofotes, apelo e receitas. O recorde de ingressos vendidos foi batido ainda em abril daquele ano. As entradas para a final, semifinais e a partida de estreia das donas da casa se esgotaram em menos de 48 horas, a FIFA obteve audiência de 1,12 bilhão de pessoas em 135 países.

Porém, apesar da maior repercussão, o abismo entre homens e mulheres ainda soa constrangedor no futebol. Um dos indicativos é a premiação paga pela FIFA às seleções participantes do Mundial. A federação dobrou o valor dos prêmios em relação à última edição, mas a quantia não chega a 1% do montante destinado aos times masculinos em 2018. A França campeã do último mundial recebeu 38 milhões de dólares, a seleção feminina campeã ficará somente com quatro milhões.

Apesar das diversas questões de desigualdade, cada vez mais mulheres têm jogado futebol em todo o mundo.

Entretanto a maior questão que fica para todos aqueles que amam e lutam pelo futebol feminino, é quando a igualdade finalmente irá acontecer para as mulheres dentro do esporte.




A realidade do futebol feminino está longe de ser as mil maravilhas e o glamour que vemos no masculino, porém, o ditado “nunca desista dos seus sonhos” é levado ao pé da letra pelas meninas que anseiam pela carreira de jogadora profissional.


Um grande exemplo dessa braveza está na selva de pedra dentro da maior floresta tropical do mundo. O Campeonato Amazonense feminino teve seu início na década de 80, no entanto só foi realizado de forma organizada muitos anos depois, em 2007, mais uma das diferenças de tratamento gigantesca se comparada ao masculino.


O futebol feminino amazonense está em constantes altos e baixos, tendo o Sul-América como o clube mais prestigiado nos anos 80, sendo campeão em 1991 e vice em 1988 nos torneios nacionais; sub-17 do Rio-Negro vice-campeão em 1997; e atualmente o Iranduba sendo o centro dos holofotes e ganhando notoriedade, participando de campeonatos nacionais. Mesmo assim ainda não ganham o tratamento e apoio que deveriam.


“Várias coisas, pois o talento existe nas meninas, e a melhor jogadora do mundo é brasileira. O que falta é o Brasil nos olhar com olhos diferentes, investir em nós, nem que seja um pouco, porque o pouco deles é muito para gente”, isso é o que fala Ana Cláudia, ex-jogadora, sobre o que falta para o futebol feminino ser mais valorizado e conhecido no país. Esse é o tipo de clamor que as jogadoras sempre fazem, mas as autoridades parecem nunca ouvir.


Em um desabafo Ana Cláudia relata, “O que falta é amor e dedicação no trabalho e nas pessoas que trabalham com o futebol feminino. Quando se tem amor, carinho e desejo as coisas acontecem. As pessoas que trabalham no futebol feminino ainda trabalham por obrigação. Então o que falta é o amor, essa vontade de querer evoluir e contribuir com o futebol feminino no país”.


Como uma forma de se expressar e se impor diante de toda a desigualdade e preconceito sofrido, a atacante Cacau, do Corinthians, junto com Gabi Kivitz, ex-jogadora, lançou a música "Jogadeira", que se tornou música tema do Copa Mundial da FIFA 2019. A letra faz referência à história que sempre se repete, nunca muda mas mesmo assim traz uma história feliz, pois enaltece a mulher no futebol e a busca por essa igualdade.





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